O negócio foi sacramentado na sala, fumando charuto.

Da sala, entramos pelo quarto de casal, em direção ao closet. Eu deveria escolher uma fantasia. Me lembrei daquele samba: "Mas eu pergunto, com que roupa, eu vou, na festa que você me convidou...."

Tinha terno branco de malandro sambista, malha de acrobata, pasta de engenheiro, toga de juiz, hábito de padre e casaco de estadista.

Procurei com mais cuidado e, bem no canto, encontrei, empoeirada, a capa de um super-herói voador.

- Essa pode?
- Todas podem.
- Mesmo preço?
- Todas têm igual valor.
- Curioso... Posso voar com ela?
- Essa aí, além de voar, proporciona a força de uma locomotiva e visão de raio-x. Você poderá enxergar através da matéria.
- Quero essa.
- Vista-se.

Saí voando pela janela do banheiro. O velho parecia orgulhoso; me chamou de corajoso. Na hora, não entendi. Estava eufórico com meus novos predicados.

35 anos depois, enquanto qualquer um encontra o almoço na esquina, preciso voar 10.000 km para conquistar o meu. Vivo preocupado com o que vejo atrás dos muros. Tomo um tiro de .45 no peito para acordar de manhã e só me sinto satisfeito se salvar algumas vidas pelo dia. E ainda por cima, sou imortal.

Sacanagem.

Nenhum comentário: