Vida assassina
Todos que passam por ti
acabam mortos
Quando o modelo está nu, não há tempo a perder
Depois, há uma história a contar.

Uma boa explicação para não ter que se explicar.
Depois da morte não há vida
Depois da morte não há Deus, nem Céu, nem Inferno
Não há campos de flores
Não há portões, nem santos, nem fantasmas
Não há ninguem nos esperando

Depois da morte não há nada

Alguém sabe o que é nada?
Alguém já viu nada?
Alguém já pensou nada?

Nada, talvez, seja o verdadeiro desconhecido
Para o qual todos saltaremos
Mais cedo ou mais tarde

Prepare-se para uma grande surpresa.

Nenhuma verdade se fecha.
Ninguém sabe exatamente o que faz.
Cada um é um nó de uma rede tramada, fio invisivel, chamada por vários nomes:

Deus, Amor, Vida, Amizade, Eternidade, Infinito, Onipotência etc

A rede se mexe sem prévia consulta nem dizer porque.
Fatalidades de todos os dias
As nuvens que passam agora no céu
Não são imagens conhecidas
porque nunca antes passaram.

Dentro de cada verdade, movimentos da trama lançam ao alto uma parte da rede
levantam aos céus alguns nós
E junto, os seus nós Amores; os nós vizinhos.

Verdade: os verdadeiros amores estão sempre próximos.

Subindo ou descendo, reversos sutis ou sinuosos,
Grandes tempestades ou luzes douradas
As vezes parece que a rede se embola.

Mas ela, tal qual as verdades,
Não tem inicio nem fim
Por isso não dá pra jogar uma ponta por dentro da outra.
Ela não tem pontas. Nunca se amarra de vez.

A rede está toda unida
Seria tal qual uma esfera não fosse impossivel circunscreve-la.
Seu movimento involui, evolui
E logo se estica de novo.

O quanto se estica depende do tempo e do espaço
E isso depende da gente.

Nenhuma verdade se fecha.
Ou eu não sou de verdade
ou sou mesmo aberto
incompleto.
Ainda bem que ninguém percebe que eu ando nu por aí.
Isso começou muito cedo, acho que eu era criança.
É claro, eu sentia vergonha sim, isso eu já tive demais.
Me escondia em algum lugar
Na maioria das vezes, numa sala vazia do colégio
Que era de Padres Católicos
E tinha assoalho de madeira de lei escura.
Sempre conseguia um bom esconderijo.
E de repente, eu estava de novo, no meio da sala de aula, sem roupa.
No meio da quadra, jogando bola, gritando e correndo com meus colegas.
Nunca ninguém percebeu que eu estava nu.
Nu como se nunca houvesse usado roupas.

Bater em jogo fechado
Sorrir em jogo aberto
Expresso sobre os tacos de madeira
Inerte sob a lei da gravidade
Em silêncio, o que existe é som
som!