
O dito da boca
não tem mais nada a dizer;
não foi proibido,
não foi reprimido;
pelo contrário, foi incentivado a fazer
tudo que quis.
Anos atrás, entrou pela porta, sedento de voz.
Matou os varões. Tomou as mulheres.
Instituiu o tempo do grito.
Urrou porcarias. Quebrou as imagens, pichou os espelhos com sangue inocente.
Bebeu o que tinha na adega. Queimou os livros sagrados
e urinou nas fotografias.
O pai conhecia seu coração e apenas olhou.
A mãe, lhe professou o amor
e com paciência aguardou.
Naquelas paredes imundas, cantou-se louvor ao demônio.
Orou-se por sua chegada.
Na data adequada, foi preparada uma festa conforme um anúncio de encruzilhada.
Havia velas vermelhas, arranjos de excrementos
e um coro de mil e quinhentos lamentos.
Um bicho foi sacrificado em sua homenagem.
O grande louvado, não compareceu.
Ninguém entendeu o que não lhe era de agrado;
A festa foi rejeitada pelo diabo.
Os gritos de guerra perderam a pôse.
A barbaridade sentiu-se sozinha, calou-se num canto e chorou.
De tanto chorar acabou dormindo. Inédito, sonhou com o mar.
As perversidades do corpo ouviram o canto de uma sereia. Anestesiadas, hipnotizadas, partiram ao seu encontro e foi nesse mar que se afogaram.
O dia seguinte nasceu em silêncio. Fora o balanço das águas, não havia nada para falar.
Do corpo inerte na cama, abriram-se os olhos bem devagar.
Ao lado da cama estava o pai. Tomava café e lia o jornal, enquanto a mãe, de lenço e chinelo de dedos, assava tarecos e batia, com leite, banana e mamão, uma vitamina adoçada com mel.