o que é mais real
a saudade
ou o objeto de tanta saudade?
Desde que eu era criança
Já tinha o costume
de me apaixonar por ti

...

As aves
(principalmente as pombas)
Nadam no céu

O ar, fluido
Mesmo raro
Tem densidade alguma
Suficiente para envolver o corpo
Por cima, por baixo, por todos os lados
conferindo a qualquer movimento
das asas, da cauda
uma manobrabilidade direcional
de ação e reação

Uma tensão superficial

Peixes e aves
Não há qualquer diferença
Entre voar e nadar

Só respirar

a corda de amarrar pessoas em linha de montagem
fale-se de boca fechada
tinta amarela
nega farinha
corrida de goles virados do avesso
Peteca de amendoin com suco gástrico
música de cabelos
plantas coisas a ver

lindas pernas brancas
Ontem
andando de bicicleta
caí do cavalo

Foi tanta morte vivida
tantos ânimos mordidos
tanta pedra lascada
que a massa mascada
endureceu
perdeu o sabor
e o grude

Não me interessa mais se estou vivo ou morto
só quero ver o mar
Tudo na vida
acaba em barriga

Bem que podia se abrir uma porta no muro do tempo
Para que eu tenha uma nova chance
de não passar por ela
Só os mortos sabem o segredo da vida
não tem demora
nem pressa
As pessoas me vêem hoje
e acham que fui sempre assim

mas não

eu aprendi a foder com a vida
Atirei o pau no gato to...

O gato não morreu
mas ninguem se admirou
porque eu errei

também não era para acertar
Querer querer
é muito mais querer
que só querer

Hoje eu quero
amanhã vai saber

o que me importa
é o que eu quero
querer

Já não se fazem mais dias como antigamente

Chove em Porto Alegre
e eu escuto as gotas cairem
quase uma a uma
Ventos carregados de areia
cruzam o ar
no mais absoluto silêncio

Jazz
Jazz
Jazz

Melhor fechar os olhos
e tocar