Certeza

Certo
é o passado
que já foi
dado.

Presente é
um futuro
incerto.

Certo,
não deixa de estar
errado.

E os erros
são certos.

Certeza
é o que passa.
A alma
flagrada pensando,
está cometendo
um delito.

Ou será
o delito,
do pensamento?

Porque o pensamento
tem
muito mais força bruta

A alma
é delicada

Pois
ela seria
violentada!

Não fosse mãe
do pensamento.

O delito,
é violento,

mas
a violência não é
de força bruta.

É de um sentimento
vazio,

pagando
qualquer valor
por seu enchimento.

Até
vale a pena pensar
o sentimento;

que é por isso
que cantamos!

Mas não justifica
sentir
o pensamento.

Porque
é impossível
sentir com vontade,

a menos que
seja com
violência.
Como se escreve uma canção.

A cada murmúrio do pensamento,
sopros improvisados
são correspondentes palavras de amor.

Cada pedaço de céu no espaço
é fragmento
de algum instante
Constantemente passado.

Areia
escorre na mão feito água
Voa no céu como vento
Está na origem
a conseqüência do movimento

Desde a largada
já se sabia
aonde ia chegar seu tormento
e quais construções sobreviveriam
ao tempo.

Regularmente
tocadas, iguais espaçadas
a cada compasso,
batidas seguidas assentam
a realidade.

Atravessando, brincando
aleatoriamente,
acasos são diversão.

Improvisando
dançando entre fatos
e fantasias.

É assim que se escreve a canção!
O dito da boca
não tem mais nada a dizer;
não foi proibido,
não foi reprimido;
pelo contrário, foi incentivado a fazer
tudo que quis.

Anos atrás, entrou pela porta, sedento de voz.
Matou os varões. Tomou as mulheres.
Instituiu o tempo do grito.
Urrou porcarias. Quebrou as imagens, pichou os espelhos com sangue inocente.
Bebeu o que tinha na adega. Queimou os livros sagrados
e urinou nas fotografias.

O pai conhecia seu coração e apenas olhou.
A mãe, lhe professou o amor
e com paciência aguardou.

Naquelas paredes imundas, cantou-se louvor ao demônio.
Orou-se por sua chegada.
Na data adequada, foi preparada uma festa conforme um anúncio de encruzilhada.
Havia velas vermelhas, arranjos de excrementos
e um coro de mil e quinhentos lamentos.
Um bicho foi sacrificado em sua homenagem.
O grande louvado, não compareceu.
Ninguém entendeu o que não lhe era de agrado;
A festa foi rejeitada pelo diabo.

Os gritos de guerra perderam a pôse.
A barbaridade sentiu-se sozinha, calou-se num canto e chorou.
De tanto chorar acabou dormindo. Inédito, sonhou com o mar.
As perversidades do corpo ouviram o canto de uma sereia. Anestesiadas, hipnotizadas, partiram ao seu encontro e foi nesse mar que se afogaram.
O dia seguinte nasceu em silêncio. Fora o balanço das águas, não havia nada para falar.
Do corpo inerte na cama, abriram-se os olhos bem devagar.

Ao lado da cama estava o pai. Tomava café e lia o jornal, enquanto a mãe, de lenço e chinelo de dedos, assava tarecos e batia, com leite, banana e mamão, uma vitamina adoçada com mel.
Memórias perdidas na beira da praia

Havia um sábio silêncio por trás daquela euforia;
havia nobreza por entre os florais da bahia;
havia marias nas águas tranqüilas.

Havia pinturas por cima das casas
e luzes mostrando o caminho.

Havia amizade no canto do vento
Havia certezas e desdobramentos
Lugar para tudo e espaço de sobra

Tanta grandeza calou a razão
Os dedos pararam
Entrou pelo peito um sopro de vida
Ouvi as batidas do meu coração

e eram batidas dobradas;
eu não estava sozinho.
O amor que não se diz

O amor me perguntou pelo silêncio.
Calei;
não respondi que estava aqui.

O que há para fazer?
Apesar do que já foi,
nada diz como vai ser.
Já estou acreditando
que o melhor é descansar.

Deixa assim como está!
Serei tanto mais feliz quanto deixar acontecer.
Aprendi a aceitar sem revidar.

Entendi
o que não há para falar;
deixei de agradecer
o que não quero devolver.

No momento em que for dado,
o presente será bem aproveitado.
Sem entulho a esconder,
sem gordura a aspirar.

Só preciso encontrar
as frases certas a cantar;
quando você não está.

E procuro pelas salas em silêncio,
entoando melodias para me acompanhar,
nem ligando se há algo de verdade a encontrar.
Se o sentido não é dito, ele pode ser tocado.
Se não pode ser tocado, pode ser uma ilusão.
O que chama de querer, pode ser um sofrimento,
uma dor, uma paixão, uma mágoa de momento,
revertida em permanente movimento.

Um perfume passageiro realiza uma viagem.
Uma nota após a outra, se costura uma canção.
O que chama de momento, pode ser a alegria de parar o pensamento,
atingindo a redenção,
e vivendo toda a vida ao mesmo tempo.

O vestido da imagem, é uma mera fantasia;
um convite generoso à construção do entendimento.
O que chama de aparência, pode ser uma escolha;
um caminho racional, de leitura emocional;
solução da equação sentimental.
O balanço desse mar.

O horizonte desse mar é uma linha retilínea;
É a média do movimento das ondas.
Das que sobem, sua ponta é tão alta quanto os vales são profundos ao redor.
Das que afundam, o mergulho precipita, e da queda se alimenta a subida da vizinha.

Sempre unidas, as gotinhas iniciam seu balanço pequenino. Afinando a parceria, embaladas pelo vento ou pelo humor do firmamento, vão, aos poucos, transformando a brincadeira num percurso radical.

Nos seus picos, a mais alta das gotinhas é apenas um pouquinho mais subida que as vizinhas. E seu posto "ao-mirante" se sustenta sobre a massa interior da superfície da onda. Na descida dessa trama, as gotinhas mais baixinhas, abraçadas e unidas às vizinhas, se preparam e planejam tomar posse da subida.

Lá de cima, assistindo ao espetáculo, sol e lua, com seus filhos, as estrelas, acreditam que estão vendo o caimento do vestido de uma deusa, numa dança conduzida pelo canto de centenas de sereias.

Vendo o lance no detalhe, há gotinhas que se soltam pelo ar. São artistas, vagabundos, meretrizes, marginais, todos eles segregados do tecido. Não alteram o caimento do vestido dessa deusa dançarina. Não desfrutam do abraço inesgotável do balanço das gotinhas e se perdem pelo vento, no espaço, perseguindo a divindade.

Esse vôo segregado, no entanto, proporciona às gotinhas abraçadas, um teor de sentimento, um perfume fractal, uma brisa espumante envolvendo a superfície do tecido. Essa brisa, no momento em que enriquece a textura do vestido que balança no rebolado da deusa, proporciona calmaria aqui no mar e motiva os corações dessas gotinhas a sonhar.
Inflação

Hoje eu encho a tua bola
pra você voar bem alto;
pra ficar apaixonada
pelo vento, aquele vento

que te leva pra bem longe,
que te lança no infinito
e te faz universal!

A camisa desse céu,
esse azul sensacional,
é retina dos seus olhos
vista do lado de dentro.

Maioral totalidade,
tudo pode e sempre
tem tudo que pede.

Seu olhar pra onde desce,
acontece
que me acerta bem no meio
e me tira do meu rumo natural.

Isso faz da minha vida
uma tela pessoal,
dividida em mil cantigas,
todas elas exigindo
harmonia.

Bem por isso,
Quero um ponto principal
no lugar mais verdejante
desses mares que te cercam.

Quero a chuva no meu campo
E o sol no meu descanso.
Quero todo merecido argumento
dirigido ao meu prazer.

Que de baixo aqui sou eu
o criador de tudo isso.

Quem te sonha colorida,
infinita de riquezas;
Quem te canta em harmonia
e te tem no coração.

Te protege e te adora,
te apóia com razão;
te aplaude na subida,
e te inflama aqui do chão.
Não seria

Ta ta ta ta!
Não fosse o café,
não fosse a manteiga,
não tinha porque
pão.

Plin plin!
Não fosse o bordão,
e o teclado marfim,
eu era fã de televisão.

Ai ai ai...
Não fosse essa falta,
e esse chão traiçoeiro,
comia arroz com feijão
e não tomava limão.

Toc toc toc!
Espera bundão!
Não fosse ontem festa,
pura euforia,
eu era de pé,
e era eu quem batia.

Não fosse a pretensa certeza frustrada,
não fosse o seguro ilusão garantida,

Não haveria sapos,
tampouco buracos;
ninguém cairia!
Nenhuma canção,
jamais cantaria a paixão.

Animais não seriam beijados,
amigos sinceros seríam inúteis;
Pais sujeitos perfeitos
nunca seriam abandonados.

Meninos sensíveis
eram retardados.
Nuvens não eram motivos de sonhos no céu,
e homens eram felizes e realizados
no bordéu.

O amor pediria idade,
sua falta não era saudade,
Sua pele macia
e seu cheiro de flor,
não me matariam de amor.
Domingo.

Não ligo se é tarde
Curto se chove
Levanto se mole
Um beijo, um xixi
E tu volta a dormir.

Rola um Nescau
Rola um desenho
O gato se enrola na roupa
e a cama declara a remela
de um sonho que chega.

Não ligo se acaba
Nem sei se começa
A semana
Não volto pra casa
Nem sei do contrôle

E sigo dormindo
Que hoje é domingo.
19/01/2008 - Ontem passei no vestibular.
Tela: "Pintando as paredes do cárcere" - Acrílica s/ papel - 100x70cm

Passagens

O melhor da nossa vida é o que passa.

Já na porta da entrada,
toma um tapa de cabeça para baixo,
e não chora que é a hora
de piscar pra enfermeira.

Na escola pega o trem da alegria.
Entra, senta, anota aí no boletim
tudo que vai precisar,
que esse trem quando partir,
vai levar seu polegar.

Passa uma,
passam duas namoradas.
O menino cria barba
e agora o papo é sério.
Passa a mão na madrugada,
passa o ferro na empregada;
te prepara que essa vida pervertida
também passa.

No concurso, com esforço
sem trapaça, um dia entra,
e se afoga na cachaça.
Comemora e observa
que da vida o que é de graça já passou.

Inaugura um endereço,
compra quadros, faz amigos, faz jantares.
Toma posse da cidade
que passou a mocidade
e o tempo na tv
já prevê a tempestade.

Vêm os filhos, mertiolate,
prestação, mensalidade,
e o plano de saúde,
principal necessidade,
custa o preço relativo
ao avanço da idade.
Parece,
mas não é sacanagem.


Passa o tempo e com ele a vida passa namorada;
passa o vento sobre as marcas deixadas na estrada.
Passam grandes pensamentos,
poderosos no momento da passada.
E o que fica é o sentimento
de que agora não é nada.
Avesso.

Eu nasci virado do avesso.
Demorei a compreender e
custei a acreditar.
Mas agora dou meu braço a torcer.

Veja os sonhos por exemplo:
todo mundo tem pra dentro,
com o couro para fora,
protegendo o conteúdo.

No meu caso irreal,
são os sonhos que protegem
essa casca natural.

Acompanhe a seqüência:
ter os dias investidos no prazer
são a minha garantia
do trabalho completado.

Trabalhando por dinheiro,
só consigo me entregar
à paixão pelo fracasso.

Sendo amigo verdadeiro,
ou por quem estou amando,
negocio intimidades
e abro mão de outros planos.

Enriqueço a cada dia
mil dobrões de alegria.
Me alimento de amor
e me visto em fantasia.

Rebeldia!
Desse jeito contra mim eu lutaria!
e essa pele incandescente engoliria.

Mas avesso do avesso é o lado certo
e é certo que assim eu erraria.
Caras bem na capa da revista.

Ter, o que precisa ter, o que merece.
Menos completando, tudo empobrece.

Cara que premia o corpo da coroa
Bobo permanece burro do seu lado

Tiras são mentiras bem contadas!
Caras de sorriso falso,
me arrancaram gargalhadas perturbadas.

Oprimiram colorido certos sonhos encantados
Me lavaram a fantasia dentro d´água da privada
Publicaram bem na capa
o maior casal de merda.

Bestas!
Engraçado se não querem
premiar minhas cuecas,
me fazendo escorrer por entre as pernas,
o valor do que seria um grande amor,
e a certeza de que a vida,
vale mais que um bom trocado.

Animais!
Que fizeram e olha só aonde chegaram
Uma deusa enriquecida por talento,
transformaram numa velha,
num bagaço muito mal intencionado.
E o que antes deveria ser exemplo,
mostra agora seu aroma bolorento.

Imbecis!
Que será do seu futuro,
quanto aos sonhos de seus filhos,
e dos filhos os amigos,
se a cartilha que divulgam,
catequisa o coração a ser vadio
e a lançar seus sentimentos
em valores de mercado?

Porcos!
Nada a ver com os porquinhos do meu tio.
É o poder do palavrão, enfurecido!
Pois bravios ideais, de um tempo ancião,
Qualquer hora voltarão toda essa merda
Bem na cara do cagão.
Fragmentos

Pepipoca
Preprojeta nela casca
Sussessivos pedipalpos contorcidos
Combinados

Preprojetado na lama da beirada de um rio
Cada grão pepipocado é comida de piranha
Bem melhor que o tornozelo dos boizinhos do roçado

Fragmentos rebolados por piranhas de banhado
Genobalde mergulhado sai repleto de teresas
Pediscalças puritanas pregozadas

Digocílio arrebitado
Uma língua de esperança
Tem talento de mocinha chorolícia

Hai escrito porcarias, enganado
que fazia melodias
Bundisnêga no passado já ouvia
Quem dizpeito no presente
Jazz curtindo utopia.

Donocleide poderia se tocar
Que o reverso de escrever
É poder imaginar
Pertranquilo, araquém da danação
Sem razão que silhifaça
O dever realizar.
Decepção

Decepção!
Tudo isso é uma grande decepção.

É quando se pede um abraço,
e leva na cara um não.

É dar de comer a alguém
que joga a comida no chão.

É quando do peito nasce um sorriso,
e a boca transforma em xingão.

É quando ao invés de marcar um namôro
a moça escolhe o chôro.

É dar em retorno ao parceiro inteiro,
um quinto de tudo que sobra
que já era pouco dinheiro.

Decepção!
Tudo isso é uma grande decepção

Mas não tema não;
com o tempo se aprende lição.
Humana limitação!
Avise seu coração,
de gente de todo lugar,
com capacidade finita de amar.


Fantini
Exibição

Olá.
Eu sei que está vendo.
Eu sinto!
Hehehehe
hehehehehe

Vou aproveitando,
investindo os minutos
mexendo contigo...

enquanto tempo passar.

Daqui a pouco vou lá.

Camisa, sapato, perfume.
Acende um cigarro
E queima sua fantasia.
Mexe com a sua magia

Pela janela aberta,
parece um vão
que podia ser palco...

hoje à noite tem show
com entrada franca.

Aproveitados o tempo,
e a sua atenção,
sobra uma declaração:

Que só pode ser de amor!
Que só pode ser de amor!

Desconfiança


As lágrimas do meu amor me fazem sofrer.
O seu sofrimento vale qualquer atitude para estancar a ferida.
Eu tenho sina de líder. E a liderança me faz assumir responsabilidades alheias.
Alheias à minha verdade, entram em meu organismo como um agente antígeno.
Provocam estardalhaços buscando um lugar pra ficar.
E o sofrimento é agora profundo. Por dentro girando demônios bebendo meu sangue, como se fosse cachaça.
O próprio amor, aliviado é o que cura meu peito de uma desgraça.

Por isso meu bem não me use.
Segure pra si, o quanto puder, seu sofrimento, se for sofrimento de amor.
Se não puder mais, me avise, não chore, me peça que eu faço. Por ti aceito os demônios, desde que fique bem claro de onde eles vêm.
Só é permitido chorar de alegria.
Se o medo chegar, recuse o convite.
Foi sua a maldade de desconfiar.

Ser e Fazer


Ser e Fazer

A arte da vida é ser,
não é fazer.
Quando se é,
agora o fazer.
E o fazer concluído,
concluído é.
E se é,
também quer fazer.
E quando fizer vai gerar
um novo ser.
que continua gerando fazer,
recomeçando a ser.
Infinitamente,

ciclicamente.
O giro do tempo
avança e retorna
em volta do mesmo ponto.
Um elo, um ano.
Tudo girando,
em volta do mesmo ponto.
Gerando energia pra cima,
descendo com tudo pra baixo.
E o ponto do centro o que é?
É o centro do “e”,
da palavra ser.
O que gira em volta é o fazer
.